Lançado em 2005, Fullmetal Alchemist the Movie: Conqueror of Shamballa (conhecido no Brasil como Fullmetal Alchemist: Conquistador de Shamballa) serve como uma conclusão da série Fullmetal Alchemist de 2003, oferecendo uma resolução para os eventos que encerram o anime, além de expandir e explorar o universo de Amestris e o mundo real de forma inusitada. Dirigido por Seiji Mizushima, o filme segue os irmãos Elric após os acontecimentos trágicos do final do anime, apresentando um enredo que transita entre o mundo fictício da alquimia e um contexto histórico que reflete o período entre as duas Guerras Mundiais. Ao unir temas de ciência, esoterismo e os sacrifícios individuais dos protagonistas, o filme consegue proporcionar uma reflexão sobre os limites do conhecimento humano e a busca incessante pelo poder. Entretanto, ele também deixa um legado de ambiguidade narrativa e divisões entre os fãs da franquia.
O enredo de Conqueror of Shamballa se a em 1923, dois anos após os eventos do anime de 2003. Edward Elric, após ser transportado para o mundo real (nosso mundo), é encontrado e contratado por um misterioso cientista chamado Dante, que possui planos sinistros envolvendo alquimia e a manipulação de dimensões. Paralelamente, seu irmão, Alphonse, permanece em Amestris, lutando para encontrar uma maneira de retornar ao mundo real e reunificar-se com seu irmão. A história se desenvolve à medida que os dois irmãos buscam soluções para seus respectivos dilemas, com temas como a busca por um “paraiso” ou o retorno à realidade sendo abordados de maneira crítica e filosófica.
O filme oferece um enredo intricado que mistura elementos do misticismo esotérico com a realidade histórica, mais especificamente a ascensão do nazismo na Alemanha, representado por figuras como Adolf Hitler, que desempenham um papel importante no enredo. Ao transitar entre os mundos de Amestris e o nosso, o filme consegue dar continuidade à história dos irmãos Elric, mas também lança novas questões existenciais sobre o papel da humanidade em um universo regido por forças cósmicas.
Do ponto de vista narrativo, o filme pode ser considerado uma continuação que foge ao que os fãs poderiam esperar após a conclusão do anime, ao introduzir novos conceitos como a ideia de um “portal para o outro mundo” e a interação com eventos históricos reais. No entanto, a combinação de ciência, alquimia e história se mostra complexa demais para uma obra que precisa manter um ritmo fluido e coeso, o que gera um certo distanciamento para o espectador, principalmente para aqueles que buscam uma conclusão mais simples e direta.
Como o filme de 2005 é uma continuação direta do anime de 2003, a maior parte da atuação vocal segue a mesma equipe de dubladores do anime original. O desempenho de Romi Paku (Edward Elric) e Rie Kugimiya (Alphonse Elric) continua sendo um dos pontos altos do filme, com suas performances de alta carga emocional, que transmitem de forma eficaz a angústia e o desespero dos irmãos Elric em busca de uma maneira de se reunir.
A atuação dos outros personagens também merece destaque, especialmente a de Takahiro Sakurai, que reprisa seu papel como Lust e dá uma nova camada ao vilão, agora atuando em um contexto mais sombrio e de ambição transcendental. A interpretação de Ichirō Nagai como o cientista Dante é igualmente eficaz, pois transmite a imersão de um personagem aparentemente “neutro”, mas que carrega ambições que vão além do humano.
A dublagem e os diálogos possuem o mesmo nível de entrega emocional que o anime de 2003, capturando perfeitamente a dinâmica entre os personagens. A atuação vocal consegue manter a coerência com o tom sombrio e trágico do filme, contribuindo para a imersão do espectador no dilema existencial que permeia toda a obra.
O roteiro de Conqueror of Shamballa apresenta uma estrutura que mescla o legado da série com uma narrativa de aventura e ficção científica. O grande mérito do roteiro está em como ele aborda questões como o conflito entre o desejo de poder absoluto e o preço de tais ambições. A introdução de uma figura como Dante, que tenta manipular a alquimia para abrir um portal para um “outro mundo”, permite ao filme explorar temas como o misticismo e o conceito de dimensões paralelas, muito presentes na literatura esotérica e científica.
No entanto, a escrita de Conqueror of Shamballa também apresenta algumas falhas, particularmente na forma como lida com a transição entre os mundos de Amestris e o mundo real. O filme não oferece explicações detalhadas o suficiente sobre como a alquimia interage com a nossa realidade, o que pode causar confusão no espectador. Embora o roteiro aborde questões filosóficas e científicas de maneira envolvente, ele não se aprofunda tanto quanto poderia na explicação dos eventos históricos e das relações entre os personagens, o que enfraquece um pouco o impacto da trama.
Além disso, o ritmo do filme pode ser um problema, já que a transição entre a ação e as partes mais reflexivas é feita de forma abrupta. Alguns momentos de introspecção e tensão dramática são intercalados com sequências de ação rápidas, que podem quebrar a imersão do espectador.
A cinematografia de Conqueror of Shamballa é eficaz, mas não se destaca tanto quanto em outras obras do gênero. A direção de arte e o design de personagens são consistentes com o estilo visual do anime original, mas o filme não arrisca em grandes inovações visuais. As cenas de ação são bem coreografadas, mas com um uso moderado de animação 3D, o que, em alguns momentos, pode prejudicar a fluidez da animação e a estética visual geral. No entanto, as cenas mais dramáticas e introspectivas têm uma boa composição visual, utilizando sombras e iluminação de forma a intensificar o tom emocional da obra.
A animação no contexto das transições entre os dois mundos — o de Amestris e o nosso — é feita de forma interessante, embora um tanto confusa. As cenas que representam o portal de Shamballa e a interação entre os dois mundos são visualmente intrigantes, mas falta uma explicação clara para que o espectador se sinta totalmente imerso no conceito proposto.
A música, composta por Michiru Ōshima, continua a ser um dos pontos altos, complementando de maneira eficaz a atmosfera do filme, e ajudando a definir o tom emocional e dramático das cenas, especialmente nas transições entre o desespero e a ação.
O final de Conqueror of Shamballa é uma conclusão lógica para os eventos do anime de 2003, mas não deixa de ser polarizador. Enquanto oferece uma resolução para o dilema dos irmãos Elric, retornando à sua jornada de reencontro e sacrifício, o final também é carregado de ambiguidades que podem frustrar os espectadores que esperavam uma conclusão mais definitiva ou otimista.
A luta de Edward contra Dante culmina em uma transição emocionante e simbólica, onde ele se reconcilia com sua própria natureza humana, mas o sacrifício final, que envolve a perda de sua própria existência no mundo real, levanta questões sobre a identidade e a limitação do ser humano. O fato de que o final é sombriamente aberto, com elementos não resolvidos completamente, pode ser visto como uma maneira de refletir a própria ideia do anime sobre o ciclo interminável de perdas e ganhos.
Fullmetal Alchemist the Movie: Conqueror of Shamballa é um filme que, embora esteja em consonância com o tom e os temas do anime original de 2003, apresenta uma abordagem mais complexa e filosófica, que pode tanto atrair quanto repelir os fãs. O enredo ousado, que mistura elementos históricos e místicos, oferece uma nova perspectiva sobre o universo de Fullmetal Alchemist, mas a sua complexidade e os elementos confusos podem diminuir o impacto para aqueles que buscam uma resolução mais simples.
A atuação vocal continua sendo um ponto forte, enquanto o roteiro, apesar de ambicioso, peca em algumas explicações e transições narrativas. A cinematografia é eficaz, mas não se destaca de maneira significativa, e a música, como esperado, complementa perfeitamente o tom da obra. O final, por sua vez, mantém a continuidade do anime com uma conclusão emocionalmente intensa, mas também deixa um legado de ambiguidades que é tanto um ponto positivo quanto negativo, dependendo da expectativa do espectador.
O filme de 2005 é uma adição valiosa para os fãs do anime de 2003, mas sua complexidade narrativa e os elementos não resolvidos podem dificultar a apreciação para alguns.