Desde os primeiros os da divulgação de Ameaça no Ar, já era possível perceber sinais de que a Lionsgate não depositava grandes expectativas no filme. O marketing, limitado e quase cômico, destacava elementos absurdos, como o making of de Mark Wahlberg raspando a cabeça para interpretar um personagem calvo, algo que parecia mais uma piada interna do que uma tentativa séria de promover o longa. Esse tipo de abordagem refletia uma produção que parecia destinada ao fracasso, sendo tratada como um descarte pelo estúdio, que claramente sabia que não havia muito a ser salvo, apesar do orçamento reduzido.
Dirigido por Mel Gibson, que retorna à cadeira de diretor após um hiato de nove anos desde o aclamado Até o Último Homem, o filme tenta ser uma espécie de ponto de reentrada para Gibson em Hollywood. Contudo, Ameaça no Ar acaba funcionando mais como um retrocesso em sua carreira. Ao lado do roteirista Jared Rosenberg, Gibson entrega um trabalho que falha tanto na execução narrativa quanto na utilização de recursos técnicos modernos, como a inteligência artificial, que aqui beira o catastrófico. As cenas geradas ou complementadas por I.A. são visivelmente artificiais, criando uma estética superficial e risível, que mais se aproxima de uma paródia de filmes de ação do que de algo sério e bem produzido.
A trama se a quase inteiramente dentro de um avião, uma escolha narrativa que poderia gerar tensão e claustrofobia, mas que acaba expondo as limitações técnicas e criativas da produção. Ao tentar estabelecer o senso de agem de tempo, o roteiro comete o erro de subestimar o público, repetindo constantemente quanto tempo falta para os eventos-chave, como se a história precisasse desesperadamente de lembretes para criar urgência. O resultado é um filme sem ritmo, onde a tensão nunca é realmente construída, e o ambiente claustrofóbico se torna apenas monótono.
A fragilidade dos cenários, que não transmitem nenhuma sensação de veracidade, e a falta de cuidado técnico, especialmente nos efeitos visuais e no uso de I.A., agravam ainda mais os problemas do longa. Em nenhum momento o espectador sente a urgência ou o perigo que a narrativa tenta emular. O que poderia ser uma experiência imersiva transforma-se em algo raso e artificial, com cenas que parecem retiradas de um simulador genérico e sem alma.
Os personagens também sofrem com um roteiro mal desenvolvido, que não oferece profundidade ou carisma para estabelecer qualquer conexão com o público. O trio principal — Mark Wahlberg, Topher Grace e Michelle Dockery — parece desconfortável em cena, resultado de uma direção pouco inspirada e de escolhas narrativas equivocadas. Wahlberg, que deveria ser o grande nome do filme, é reduzido a um papel quase coadjuvante, com momentos de completa ausência de relevância. Grace alterna entre períodos de total ividade e participações forçadas, enquanto Dockery tenta, sem sucesso, sustentar a narrativa com sua performance, prejudicada pela falta de material sólido para trabalhar.
Além disso, a promessa de um filme de ação tenso com elementos de suspense fica muito distante da realidade entregue. As cenas que deveriam ser marcantes falham em causar qualquer impacto, e a história simplesmente não consegue manter o espectador interessado. Em um filme de 90 minutos, o mínimo esperado seria alguma diversão despretensiosa, mas até nisso Ameaça no Ar decepciona.
Um detalhe curioso é que o roteiro do filme figurava na "Blacklist" de 2020, uma lista de roteiros elogiados que ainda não haviam sido produzidos. Essa informação levanta a questão: onde exatamente tudo deu errado? Foi na aquisição pela Lionsgate? Na abordagem de Mel Gibson e Jared Rosenberg? Ou talvez na decisão de transformar a calvície de Wahlberg em um dos pontos centrais da promoção? Seja qual for a resposta, o resultado final é um filme que desperdiça qualquer potencial que poderia ter tido.
Em resumo, Ameaça no Ar é uma obra que falha em todos os aspectos possíveis. Sua narrativa é fraca, seus personagens são insossos, e sua execução técnica é vergonhosa. Nem mesmo como entretenimento descartável o filme consegue funcionar, entregando uma experiência apática e sem propósito. Se Mel Gibson esperava usar esse filme como uma plataforma para retornar ao cenário de Hollywood, ele provavelmente precisará reavaliar suas escolhas. Afinal, Ameaça no Ar não a de um voo sem destino, incapaz de decolar tanto em termos narrativos quanto técnicos.