Está no streaming, ganhou 3 Oscars e é um filme policial com ótimas atuações, mas não deveria ter ganhado o de Melhor Filme
Giovanni Rodrigues
Giovanni Rodrigues
-Redação
Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

Não era o melhor daquele ano e ganhou a fama de "pior vencedor do Oscar de Melhor Filme".

Em 1991, o diretor e roteirista Paul Haggis, cocriador de Walker, Texas Ranger e roteirista de, entre outros, Menina de Ouro e vários filmes de James Bond, tinha ido à estreia de O Silêncio dos Inocentes quando, a caminho de casa, foi assaltado em frente a um Blockbuster. Aquele incidente, como contaria depois, o fez refletir sobre o racismo e classismo na sociedade americana: "Acordei pensando naqueles garotos que tinham roubado meu carro", lembraria Haggis anos depois em uma entrevista para a Los Angeles Magazine. "Pensei: 'Deveria voltar a dormir, mas se voltar a dormir, vou esquecer a ideia, não é?'. Então me arrastei até o escritório e comecei a escrever. Não parava de me fazer perguntas. Às 10 da manhã tinha um rascunho de 35 páginas. Mais tarde chamaria Bobby Moresco para transformá-lo em roteiro".

Aquele roteiro se transformou em Crash - No Limite, um filme que chegou aos cinemas em 2005 e que agora acaba de completar nada menos que 20 anos. Haggis, para quem era seu segundo longa-metragem como diretor, realizou seu projeto com pouco mais de 6 milhões de dólares e arrecadou quase 100 milhões com o filme, que também foi um sucesso no Oscar.

Indicado a seis prêmios da Academia, Crash ganhou 3 Oscars em sua edição, entre eles o de Melhor Filme. Além disso, também ganhou Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. O filme está disponível atualmente nos catálogos do Claro tv+ e Telecine.

Crash - No Limite
Crash - No Limite
Data de lançamento 28 de outubro de 2005 | 1h 47min
Criador(es): Paul Haggis
Com Sandra Bullock, Don Cheadle, Matt Dillon
Usuários
4,3

No entanto, foram muitos os que consideraram que Crash não deveria ter ganho o Oscar de Melhor Filme e, mesmo 20 anos depois, é um dos eternamente mencionados nas conversas/artigos sobre prêmios que não acabaram nas mãos de quem mais merecia. Naquela edição, quando ainda só se indicavam cinco filmes na categoria principal, os outros indicados eram Munique, Capote, Boa Noite e Boa Sorte e O Segredo de Brokeback Mountain. Todos eles filmes com grande reputação, mas entre os quais o grande favorito era o western romântico dirigido por Ang Lee com Heath Ledger e Jake Gyllenhaal como protagonistas.

Até mesmo o próprio Haggis falaria assim em uma entrevista para o Uproxx 10 anos depois: "Era o melhor filme do ano? Não acho. Havia filmes maravilhosos naquele ano. [...] Crash, por alguma razão, impactou as pessoas, as comoveu. E não se pode julgar esses filmes assim. Estou muito feliz por ter esses Oscars. Mas não deveriam me perguntar qual foi o melhor filme do ano, porque não votaria em Crash só porque vi o talento dos outros filmes. No entanto, por alguma razão, esse foi o filme que mais comoveu as pessoas naquele ano".

No entanto, nesse mesmo ano também quis compartilhar uma reflexão que ouviu Jack Nicholson fazer sobre merecer ou não merecer, falando com o HuffPost: "As pessoas costumam dizer: 'Tal filme merecia ganhar um Oscar?'. E me lembro de Jack Nicholson; alguém perguntou se um filme - não o meu, mas outro - merecia ganhar um Oscar, e ele disse: 'Ganhou? Então merecia'".

Bob Yari Productions/DEJ Productions/Bull's Eye Entertainment/Blackfriars Bridge/Harris Company/ApolloProScreen Productions

No entanto, com 74% no Rotten Tomatoes, é o filme vencedor do Oscar de Melhor Filme realizado no século XXI com pior pontuação.

Protagonizado por todo um elenco de estrelas cujas interpretações foram o melhor do filme - Sandra Bullock, Don Cheadle, Matt Dillon, Brendan Fraser, Terrence Howard e Thandiwe Newton, entre outros -, Crash aborda 24 horas das vidas de um grupo de pessoas que aparentemente não têm nada a ver umas com as outras, mas que estão conectadas para explorar seu verdadeiro tema de fundo: as tensões raciais em Los Angeles.

Como contou Haggis ao HuffPost, seu objetivo sempre foi "desmentir os liberais", mostrar a hipocrisia da sociedade apontando para as pessoas que ficam obcecadas com o politicamente correto, mas que frequentemente ignoram seus próprios preconceitos: "É muito fácil desmentir aqueles que consideramos racistas. São aquelas pessoas que pensam: 'Temos tudo resolvido' e as que pensam: 'Somos boas pessoas, somos bons liberais'; essas são as pessoas nas quais não se pode confiar, porque há certo nível de negação".

*Conteúdo Global do AdoroCinema

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