Entre Montanhas: Anya Taylor-Joy se consagra como nova deusa da ação após Furiosa nesta divertida mistura de romance e terror
Giovanni Rodrigues
Giovanni Rodrigues
-Redação
Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

Um digno blockbuster lançado discretamente na Apple TV+ que contém mais espetáculo e tiroteios que qualquer outra proposta em 2025 até agora.

Após o impulso de Furiosa: Uma Saga Mad Max, Anya Taylor-Joy confirma seu status como heroína de ação no divertido Entre Montanhas, aposta da Apple TV+ em suspense e ação, que também tem Miles Teller como co-protagonista. Seu molde de filme romântico de gênero serve como um espelho distorcido dos encontros modernos, mas também é uma representação involuntária da influência dos videogames na narrativa cinematográfica atual.

É estranho que Scott Derrickson seja o encarregado de dar movimento a esta ideia que parece a adaptação live-action de um mangá onde nos são apresentados Levi e Drasa, dois atiradores de elite, empregados do Ocidente e Oriente, respectivamente, cuja última missão é bastante incomum: ar um ano em uma instalação isolada, cuja localização geográfica exata nem mesmo conhecem, como uma espécie de guardiões, vigiando um muro perimetral de enormes torres situadas em lados opostos de um enorme desfiladeiro envolto em névoa.

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Não sabem de quem estão protegidos nem o que protegem, só têm instruções para renovar as torres automáticas, manter um campo de minas flutuante e garantir que não haja contato entre eles. Claro, 12 meses são demais, e Drasa logo esgota a determinação de Levi, que encontra formas de encurtar a distância entre ambos com blocos de notas e binóculos, mas logo anseia por um contato mais próximo, iniciando uma relação que só pode ser descrita como uma evolução heterossexual da relação entre dois personagens de Madrugada dos Mortos.

Entre Montanhas
Entre Montanhas
Data de lançamento 14 de fevereiro de 2025 | 2h 07min
Criador(es): Scott Derrickson
Com Anya Taylor-Joy, Miles Teller, Sigourney Weaver
Usuários
4,1
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Tutti frutti com atitude mas pixels demais sem textura ee1r

Derrickson deve agradecer ao agora célebre James Gunn pela ideia, mas além de repetir alguns momentos-chave, o elemento fantástico que existe entre ambos não é tão distinto. Durante seus bons 40-50 minutos estamos em um relacionamento à distância divertido, que não se torna cansativo apesar de nos encontrarmos em duas localizações isoladas, graças a um olhar panorâmico, o uso de locações naturais e paisagens que ampliam a escala do que poderia ter sido um filme mais contido.

Mas o bom de Entre Montanhas é que sua estrutura muito diferenciada parece quase um programa duplo grindhouse. Sobre sua história de amor bobinha e simplória há uma espécie de conspiração geopolítica que nos leva quase aos tempos da Empire e suas ideias geniais como Robot Jox, mas na hora da verdade seu desenvolvimento é mais ou menos como uma espécie de Sr. e Sra. Smith levado ao cinema bélico, ou conjugado com A Grande Muralha ou até mesmo A Pele Fria. A única diferença é que aqui a ameaça é estranha e desconhecida.

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Isso nos dá momentos estupendos em ambas as metades, embora a mais atraente a priori seja a inicial, na qual Drasa e Levi se conhecem e consumam um romance à distância, em que Derrickson nos presenteia com momentos tão simples quanto espetaculares, como ver Anya Taylor-Joy dançando ao ritmo dos Ramones, ou Anya Taylor-Joy repetidamente provocando Miles Teller. A história de amor não poderia ser mais bobinha, mas há algo entre ambos os atores que funciona e nos seduz, talvez pela simplicidade da proposta, tão "original" que não serve para entrar em uma programação de cinema povoada por reboots, sequências e readaptações.

Um Derrickson por encomenda 13037

Não é que possamos colocar Entre Montanhas como exemplo de originalidade, com seu modelo inverso de Círculo de Fogo e uma segunda metade mais próxima a videogames como Doom ou The Last of Us, o que acaba acontecendo é que nessa parte mais de aventura, quase uma reinterpretação de The Lost Continent (1968) de Dennis Wheatley, com notas do fosso do King Kong (2005) de Peter Jackson, é que a contenção inicial é trocada por um espetáculo de efeitos especiais mal acabados que não fazem justiça aos macabros designs das criaturas que não são poupados.

É nessa fase que Entre Montanhas a pelo filtro de Eu Sou a Lenda de 2007, ando do contido ao torrente de CGI mal acabado, com seres que parecem ora saídos de O Nevoeiro (2007), ora de uma má adaptação de alguma fantasia épica sombria, desperdiçando um bom trabalho de direção de Derrickson, ao qual não combina nada esta espécie de reinvenção dos filmes de Resident Evil de Paul W.S. Anderson que certamente seus defensores acabarão gostando mais do que dos bons filmes do diretor de A Entidade.

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A projeção para streaming prejudica sua ambição, e embora seja eficiente em nível de execução, a traição aos seus recursos mais sombrios, para focar em fãs de videogames acostumados a texturas digitais sem assentar, acaba sendo decepcionante, apesar de manter sempre em forma seu músculo industrial além do que faria um estúdio tradicional, ao menos aqui temos uma boa trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross e não poucas concessões à evasão sem complexos que diferenciam o projeto de uma adaptação direto para DVD de 20 anos atrás, embora após O Telefone Preto se esperava mais de seu diretor.

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