No final de abril deste ano, entrou para o catálogo da Netflix a distopia sombria O Eternauta. A série carrega uma origem argentina: trata-se de uma adaptação live-action da icônica graphic vovel El Eternauta, sendo este um dos clássicos absolutos do país latino desde a década de 1950.
A trama se inicia em uma noite de verão em Buenos Aires, quando uma misteriosa e mortal nevasca assola o continente, dizimando milhões de pessoas. No entanto, a tempestade não é um fenômeno natural, mas sim o primeiro ataque de uma força alienígena invisível, que dá início a uma invasão da Terra.
Juan Salvo (Ricardo Darín), um dos poucos sobreviventes, se vê diante da missão de liderar um grupo em meio ao caos, enfrentando tanto o imenso frio quanto a ameaça extraterrestre. À medida que tentam sobreviver, os personagens descobrem que a única chance de continuar vivos é se unir e lutar contra essa ameaça comum.

A série acompanha a luta desesperada do grupo para enfrentar forças que parecem impossíveis de derrotar, enquanto os laços de amizade e sobrevivência se fortalecem. Com um enredo tenso e repleto de ação, O Eternauta explora temas de resistência e sacrifício em um cenário apocalíptico, enquanto desvela os segredos de uma invasão alienígena que ameaça destruir toda a humanidade.
Eternauta vem de tempos de agitação política uf46
Já no final da década de 1950, o jornalista e quadrinista argentino Héctor Germán Oesterheld publicou a história em quadrinhos El Eternauta. Naquela época, a Argentina era caracterizada pela agitação política: até a década de 1970, houve repetidos golpes militares e mudanças abruptas de governo.
Talvez essas circunstâncias tenham contribuído para a firme convicção que Oesterheld representa em Eternauta: somente juntos a humanidade é forte e pode resistir à injustiça. Oesterheld e sua família eram ativos na resistência política e foram vítimas de um destino terrível poucos anos após a publicação de Eternauta.

O inventor do Eternauta foi perseguido politicamente e assassinado 1b1y2v
Em 1977, quase 20 anos após a publicação de Eternauta, Oesterheld foi preso e levado à força para uma prisão militar. Suas quatro filhas, que, como ele, eram ativas na resistência radical de esquerda, foram assassinadas pelo regime militar. Ele foi visto pela última vez por um colega de cela em janeiro de 1978.
A esposa de Oesterheld, que morreu apenas em 2015, vê uma séria memória política em seu trabalho. O jornal The Guardian a cita dizendo: "El Eternauta foi um paralelo ao que aconteceu na Argentina , ao que aconteceu comigo. Minha família foi destruída, assim como nosso país foi destruído".
Até hoje, o destino de Oesterheld continua sendo objeto de campanhas políticas e controvérsias. Até pouco antes de sua morte, ele atuou na resistência e continuou publicando obras contra a ditadura militar argentina na clandestinidade. A junta matou cerca de 30.000 pessoas em sua autoproclamada guerra contra o marxismo.

Ainda no Guardian, o neto de Oesterheld, Martín, descreve os laços e relacionamentos humanos como o "eixo central" de suas histórias. O produtor atua como consultor criativo da série e descreve os valores centrais da trama como "solidariedade, engenhosidade e amizade".
Na Argentina, a graphic novel é considerada um clássico absoluto e, depois de muitos anos de tentativas, finalmente está se concretizando: a memória de Oesterheld continua viva na adaptação da Netflix.