Gilberto Braga, falecido em outubro de 2021, foi um dos autores da versão original de Vale Tudo (1988), escrita em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Além da trama que marcou época ao retratar o embate moral entre mãe e filha, o novelista também foi responsável por outros grandes sucessos da teledramaturgia brasileira, como Escrava Isaura (1976), Dancin’ Days (1978) e Celebridade (2003).
Mas será que ele mudaria algo em suas novelas? Em entrevista ao Segundo Caderno do jornal O Globo, publicada em setembro de 1994, o autor revelou quais folhetins manteria exatamente como foram ao ar e quais ele reescreveria, em parte ou por completo.
Na época, Gilberto estava escrevendo Pátria Minha – que ficou marcada pelas polêmicas nos bastidores – e celebrava 20 anos de carreira no gênero.
Entre as produções que ele afirmou não mudar "uma vírgula" está Escrava Isaura, a novela brasileira mais vendida no exterior no século 20. No entanto, anos depois, Braga chegou a desdenhar da própria obra, fazendo críticas aos cenários e até questionando a escolha de Lucélia Santos como protagonista do folhetim histórico.

O autor também afirmou ao Globo que não mexeria em outras duas tramas de época: Helena e Senhora, ambas de 1975. Porém, fez uma ressalva sobre a qualidade da segunda, baseada no romance de José de Alencar: “Não precisaria alterar. O texto é competente. Pode ser que a produção mereça retoques porque naquela época tudo era mais pobrezinho", alfinetou.
A única mudança em Vale Tudo s4g5w
A respeito de Vale Tudo, Gilberto Braga não teceu comentários sobre o enredo da obra em si, mas mencionou um único aspecto que mudaria se pudesse reescrever o sucesso da década de 1980: o perfil da personagem interpretada por Regina Duarte. “Eu melhoraria a Raquel, que era um pouco chata", confessou na entrevista.
Curiosamente, no remake de Vale Tudo, assinado por Manuela Dias, Raquel – agora vivida por Taís Araujo – continua sendo vista por parte do público como uma personagem chata. Outro grupo, no entanto, enxerga na mulher batalhadora e extremamente honesta uma personalidade irável, que só precisa "acordar pra vida".
Vale Tudo: Compare os atores da versão original de 1988 com o elenco do novo remake da TV GloboMais autocríticas de Gilberto Braga c5530
Gilberto Braga também afirmou que mudaria parcialmente está Dancin' Days: "É uma boa novela até o capítulo 60. Depois disso, é uma enrolação só. Com exceção do Alberico, personagem do Mário Lago, eu mudaria todos os tipos masculinos. O Cacá, interpretado pelo Antônio Fagundes, por exemplo, não era nada. Naquela época, eu só sabia escrever para mulheres."
Apesar de Corpo a Corpo (1984), exibida recentemente no canal Viva (atualmente Globoplay Novelas), ser considerada uma das preferidas do autor, ele também fez autocríticas à obra: “Gostaria de reescrever a segunda parte da história e melhorar a trama do Fagundes, que ficou muito chata. E mexeria um pouco no romance da Zezé Motta com Marcos Paulo.”

Na mesma entrevista ao O Globo, Gilberto Braga relembrou outras novelas que, segundo ele, também precisariam de ajustes:
- Corrida do Ouro (1974): "Eu mudaria tudo. Não tem espinha dorsal. São sete herdeiras com o mesmo peso..."
- Água Viva (1980): "Eu tentaria criar uma espinha dorsal mais forte. A história da orfã não funcionou muito. O romance dos personagens de Betty Faria e Reginaldo Faria também não deu muito certo. Eu só não mexeria nos personagens de Tônia Carreiro e Beatriz Segall."
- Brilhante (1981): "Eu precisaria refazer tudo."

- Dona Xepa (1977): "Ah, é muito tosca. Eu a escrevi de braço quebrado, ditando os capítulos para uma secretária, um horror... É boa até o capítulo 40, mais ou menos. Depois, vira uma bagunça."
- Louco Amor (1983): "Eu só aproveitaria a parte do Edgar, personagem interpretado pelo José Lewgoy. É uma novela muito sem graça."
- O Dono do Mundo (1991): "Adoraria reescrever, botando uma dose de esperança desde o primeiro capítulo. Acho que, a partir do momento que eu pusesse o beija-flor dizendo que um dia as coisas melhorariam, dando um toque de esperança aos pobres, as pessoas podiam gostar. Outra coisa que não consegui foi que gostassem da personagem de Malu Mader."