O filme, embora apresente qualidades visuais inegáveis, torna-se redundante ao se apoiar demasiadamente na estética e estrutura narrativa consagradas pela versão de Drácula dirigida por Francis Ford Coppola em 1992. Ainda que Nosferatu sempre tenha carregado o estigma de ser uma adaptação não autorizada do romance de Bram Stoker, sua força residia justamente na ousadia de se afastar do cânone, criando uma figura de vampiro profundamente inquietante e única.
Infelizmente, essa releitura de 2024 opta por renunciar à singularidade que fazia de Orlok um ícone do terror expressionista. Ao reconfigurá-lo com feições mais próximas do Vlad Tepes histórico, numa tentativa de aproximá-lo do Drácula real, o estúdio dissolve o estranhamento visual e simbólico que outrora distinguia Nosferatu. Orlok sempre foi eficaz por nos confrontar com o inumano, com o grotesco; suavizar isso equivale a retirar o rugido do Godzilla, resta a forma, mas não o impacto.
Trata-se, portanto, de uma oportunidade desperdiçada de ressignificar a obra e finalmente libertá-la do rótulo de mera cópia. E pior: a forma como o vampiro encontra seu fim é, sem revelar detalhes, absolutamente inusitada, e não no bom sentido. Em uma mitologia onde vampiros já foram destruídos por fogo, estacas, prata e luz solar, a solução apresentada aqui beira o cômico, desestabilizando qualquer construção de tensão que o filme pudesse ter alcançado.
As atuações tampouco contribuem significativamente para elevar a experiência. Faltam vigor e profundidade dramática nos intérpretes, o que compromete a imersão. A fotografia, por outro lado, é irrepreensível, bela, atmosférica, muitas vezes hipnotizante. Contudo, por si só, ela não sustenta a fragilidade do conjunto.
No fim, o longa tinha em mãos a chance de ouro de reinventar Nosferatu, de libertá-lo da sombra de Drácula e devolvê-lo ao panteão dos grandes monstros do cinema com identidade própria. Em vez disso, preferiu reforçar o que sempre o limitou, e ainda entregou um desfecho que oscila entre o absurdo e o involuntariamente cômico.